Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2016

Não é mais um texto de uma mulher sobre mulheres.

Talvez por não me rever nas mulheres de que estas mulheres, e alguns homens, falam. Sei que pode estar a parecer confuso. Vou tentar explicar.

Falo das mulheres de que se falam nas mais recentes crónicas, embora reconheça que haja - ;) - mulheres que não sejam vistas como pessoas iguais, e que por isso sejam metidas naquela gaveta dos naperons bafientos. Eu tenho mãe, e tive avós. E sou filha e neta e namorada e publicitária e humorista e cidadã e activista. Sei bem que a diferença ainda existe. E não é uma diferença feita exclusivamente por homens, como há quem queira fazer parecer.

 

As mulheres de que cada vez mais mulheres falam, em fóruns de mulheres, para mulheres, sobre mulheres...sinto que faz muito pouco pelo género e muito menos pelo feminismo que dizem defender. Categoriza-nos, mete-nos muitas vezes numa categoria especial, seja por ser elogiadas como mais ou por ser tratadas como menos. Pedem inclusão, como se alguém recebesse um desconto no IRS por nos aceitar. Eu não quero projectos inclusivos, eu não quero leis da paridade, ser mulher é o mesmo que ser homem, gay, hetero, que ser branco, chinês, ou o Quimbé. Ser mulher não nos torna mais especiais, simplesmente faz de nós iguais. E é por isso que eu não sou feminista, sou igualitária. Uma igualitária que não boicota os óscares, porque se o Idris Elba não foi nomeado o DiCaprio também nunca ganhou um. Porque para mim o problema da diversidade está na escrita de papéis e no casting dos filmes. Uma igualitária que acha que a personalidade e talento deve ser o que nos define, e que sofre por vivermos numa sociedade tudo menos meritocrática como a nossa.

 

Mas é por ir percebendo aos poucos o que é o feminismo visto pelos olhos dos outros e outras, escrito pelas mãos de outros e outras, mãos essas que me dão reguadas por pluralizar no masculino como se achassem que eu devia pensar e agir de determinada forma. Eu não quero levar com o jornal, nem de homem nem de mulher nenhuma. Sinto e considero aquilo que eu acho correcto, mesmo que não conheça todas as terminologias científicas e politicamente correctas e que, por isso, perca nesses debates por aí. Sou igualitária. Não acho que por produzir maior quantidade de estrogénio ou ter orgãos sexuais característicos, faz de mim especial e diferente.

Ser igualitária não é ser anti-feminista. Muito, muito, pelo contrário. É por não me rever na forma como o feminismo se está a tornar tendência, que me assumo assim.

“Quem não está connosco está contra nós”. Que idiotice pegada nos dias que correm. Se não estou "convosco" é porque não me revejo na vossa forma de actuar e não quero assinar por baixo na vossa linha de pensamento. E no final do dia, faço o meu trabalho pela igualdade. Não preciso de sites com logotipos caligrafados, construído com uma premissa falaciosa e que se alimenta da ideia de que as mulheres são o elo mais fraco e que maneira de combater isso é apontarmos dedos e recriarmos os exactos padrões que abominamos nas outras pessoas e em incentivar comportamentos de mulheres modernas e independentes, como se tivéssemos conquistado o direito ao voto anteontem.

 

Se há questões que precisam de ser resolvidas? claro que sim. Se o feminismo foi dos movimentos mais importantes do mundo? Sem dúvida e estarei eternamente grata, e é sendo igualitária, nos dias de hoje, que acredito que estou a honrá-lo e a dar o passo a seguir.  É o que eu acredito.

 

Igualidade salarial. Mulheres em lugares de topo. Supervisão e reforço das baixas de maternidade nos locais de trabalho. Isto são as minhas questões, as que acho mais importantes. Se somos as super-mulheres porque fazemos jogging e temos de trabalhar e dar de mamar à criança ao mesmo tempo que também saímos com as nossas amigas, fazemos montes de sexo e vamos à depilação, "ah e agora a Barbie já não é escanzelada e portanto já não vamos ter de reger os nossos padrões de vida por 15cm de plástico. Yupii! Mais uma vitória!”, enquanto mulher nunca deixei que me definissem, muito menos 15 cm’s de plástico. E aliás, há mulheres que querem ser mães a tempo inteiro, e então? São menos? Para mim isto não passam de fait-divers que só servem para entreter. Nessas alturas, eu prefiro ver uma TED Talk.

 

Isto para dizer que eu falo para pessoas, que como na carta dos direitos do Homem (sim), devem ser iguais em direitos e deveres. Duplos padrões de analisar os mesmos assuntos, é material de sátira para mim. Porque morrem estatisticamente mais mulheres por violência doméstica, mas também morrem homens, e os homens ainda têm um duplo estigma de se queixarem à polícia, por isso eu acho a violência domestica um tema urgente e envolvo-me pelo seu combate, seja a vítima quem for. Se um homem é violado, se um miúdo é abusado por uma professora...o duplo padrão, tal como o julgamento sexual que a sociedade ainda faz de um homem e de uma mulher.

 

Sou uma mulher pela igualdade. Especialmente por cultivar e respeitar o direito de todos a sermos diferentes. E como publicitária, ou como humorista, universos estatisticamente masculinizados, tento não pedir com licença a ninguém para ser eu própria e dizer o que me apetece e ser coerente no que defendo, por mim e pelos meus pares, sejam eles homens, mulheres, ou aquele idiota da contabilidade.

 

Se já senti que era tratada de maneira diferente? Tantas vezes. Ter de "vender" a minha ideia duas vezes mais qualquer colega meu. Já tive quem desse pontuações às meninas da empresa, numa folha a4, à hora de entrada no trabalho. Oiço várias vezes que "as mulheres não têm tanta piada" ou pelo contrário "Vai ser mais fácil para ti vingares porque és mulher", sinceramente não sei qual o pior. Nunca fui do girlpower, e abomino grupos de mulheres que partem dessa ideia, não vai simplesmente de encontro ao que acredito. Isto porque já tive em ladies night, já me pagaram o jantar, e até fiz um período experimental num ginásio só de mulheres.

 

Cada vez temos mais medo de ser diferentes e dizer piadas e dizer certas coisas em voz alta porque estamos sempre a ofender alguém, e não sabemos quando é que pisamos o risco feito por interesses de certos grupos e podemos ser apontados, bloqueados e feitos inimigos nº1 durante 15 dias. Que se lixe isso. Não vamos é alinhar na padronização que nos querem impor dos comportamentos e do que dizemos onde dizemos e quando dizemos. Que se lixe, caramba. Que se lixem.

 

Mas o que quer dizer é isto: O mundo é um lugar sempre desequilibrado e injusto, e não é dividindo mas sim puxando pela igualdade que avançamos todos.

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publicado por Cátia Domingues às 20:19
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