Mãe,
quero começar por te pedir novamente desculpa por estar a falar publicamente contigo. Tu que sempre detestaste intimidades em público, à excepção das palmadas que me davas quando fazia birras audíveis no supermercado por causa das Barbies e dos legos.
(Acredito que neste momento estejas a reviver todos estes momentos bonitos que tívemos, eu estou, e ainda consigo sentir o rabo incandescente daquela palmada certeira)
O que eu te quero dizer é isto: ( e vou dizê-lo sem rodeios, daqueles que eu tão automaticamente fazia quando te queria pedir alguma coisa, nomeadamente Barbies Baile-de-máscara, género cão de Pavlov depois de perceber que as birras não resultavam) EU QUERO SER CRIATIVA.
Ainda estás aí?
Ok.
Não mãe, não é bem isso. Quer dizer..sim mãe, tu sempre disseste que eu era criativa e que escrevia coisas engraçadas. Mas não é só isso. É uma Profissão a sério. Desde quando é uma profissão? Oh mãe, é uma profissão ponto. Tá bem, tu és engraçada e ninguém te paga por isso. Não estás mesmo a perceber.
Espera.
Ouve-me até ao fim e não me interrompas.
Sei que tu e o pai investiram em mim para tirar o curso de comunicação. Aprendi coisas, é certo. Tive uma boa média. Ajudaram-me a tirar uma especialização. A verdade é que o que eu gosto é de criar. E não precisava de um curso para isso. Claro que me ajudou a estar aqui hoje, mas só ‘efeito borboleta(mente)’ falando. E estou eternamente agradecida por isso. Também sei que contribuiu muito para o vosso descanso em relação ao meu futuro. Mas o que mais me ajudou mãe, foram os livros que sempre me compraram. Foi a playstation, que apesar dos meus amuos, não me compraram. Foi o telemóvel que só me ofereceram aos 15 anos. Foi a nossa televisão que só passava o telejornal. Foi o não terem tido mais filho nenhum e, sendo filha única, ter sendo criado infinitos amigos imaginários. Foi o terem aturado a minha idade dos porquês até hoje. Foi o me deixarem cair e picar-me para saber que existem quedas e que tocar no lume queima. Foram os ensinamentos do borda d’Água e do BBC vida selvagem da casa do avô. Foi o, desde sempre ter trabalhado atrás de um balcão, e me ter víciado em pessoas. Em Pessoa também. Foi o ouvir sons alternados entre fado e pimba. Foram os bolos de terra e as feridas de raspar nas árvores. Foi o ter avós analfabetos. Foi ter um pai e uma mãe que trabalham de sol a sol. Foi receber carinho de presente em muitos aniversários e natais.
Esta profissão que escolhi tem uma formação que dura até hoje. Agora. Constantemente. Saber tudo de tudo. Uma pizza quatro estações de massa alta. É difícil, mas é tão bom. Não existe céu. É pensar...imaginar e superar-me, porque, como em tudo, vai haver sempre melhor e pior que eu. É não ter horário. É ter uma ânsia incessante de fazer acontecer. É onde a frustração e o egocentrismo se tratam por tu. É o equilíbrio das forças. É reconhecer que o chavão ’10% talento e 90% trabalho’ é uma certeza. É ter que aguentar muita coisa, é treinar a goela para sapos. É ser um dia bestial, outro besta. É ter o criatividade no coração e o lucro na cabeça. É ter os olhos no prémio mas as mãos na massa. É ter humildade para reiventar a roda. É agradecer as pessoas que, genuinamente, nos ajudam. É agradecer ainda mais às pessoas que nos lixam, reconhecendo que são elas que mais nos ensinam. É aceitar críticas. É trocar o crucifixo pela nossa fotografia e acreditar cada vez mais em nós. É saltar muitas vez ao dia de um avião sem saber se temos para-quedas, mas saltar na mesma nem que seja pela adrenalina que nos dá. É respeitar os quadradões, mas nunca deixar de tentar convertê-los. É ver os cabelos brancos que ganhamos como sinónimos de charme e sabedoria.É o trabalho de agência, é o fazer propostas, é o stress e as arritmias. É sentir a frase “Já foi feita” como um elogio. É meter o prazer à frente da remuneração. É aprender sempre e não ter medo de mudar. É enfrentar as nossas fobias e andar contra o relógio. É amar comunicação de todas as formas e feitios, aceitando as suas potencialidades e limitações. É ir limando as arestas das campanhas ao mesmo tempo que vou limando as minhas.
É não te conseguir explicar de forma perfeita a minha profissão, Mas querer ser mais aquilo que não te consigo explicar.
Tudo isto é um trabalho que se desenvolve todos os dias. E são estas as noitadas que faço na agência mãe. É isto que eu quero continuar a fazer, sempre, em qualquer coisas. Faço o que gosto,acordo todos os dias com as cordas do peito a vibrarem com briefings (há dias menos felizes, é um facto). Mas não há dinheiro que pague a sensação de ‘Eureka’, os olhos que brilham quando a ideia vai para a frente.
Percebeste?
Mãe, estás aí?
Mãe?
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